Ombros largos

Continuando na minha busca determinada por uma bunda dura, fiz a primeira aula de natação.
Lá fui eu com o meu ultra-über- fashion suquine, meu super-mega-power óculos e minha max-sei lá o quê- muito legal touca.
Nada de música alta, nem de fedor de suor, nem gritos alucinantes de professores histéricos, uma paz total no reino das piscinas.

O corpo deslizando pela água azul;
O braço sobe carregando um pouco de água- chuáaaa!
O braço desce perfurando toneladas de água e impulsionando meu corpo para frente- Bluuup!

chuáaa... bluuup...chuáaa...bluuup....

O balé se completa com a batida ininterrupta das pernas esticadas e dos pés flexíveis.
Chack...chack... chack...chack....

Inspira pela boca, solta pelo nariz ...Inspira pela boca, solta pelo nariz ...Inspira pela boca, solta pelo nariz ...Inspira pelo nariz... cof, cof,cof,cof ... ai, engoli água.

É... nadar exige certa concentracão.

Entre cada braçada, fico me perguntando sobre o que pensar. Nunca cheguei a nenhuma conclusão e todo o tempo que nadei meu cérebro nadou nessa indagação: o que pensar? Meu Deus e agora eu penso o que? Mais uma sequencia, nessa eu tenho que pensar em alguma coisa, não é possível!

Nadar desopila.
O corpo, a mente, os pulmões...
Foi tão bom... tão relaxante!
Num instante acabou a aula.

Sai numa felicidade só, pensando nas decagramas de gordura do culote que havia perdido.
De repente, vi que o Mundo também estava mais feliz. As pessoas riam para mim, gesticulavam alguma coisa, em geral eu retribuia com outros gestos e com mais sorrisos.

Quando cheguei em casa vi que não eram cumprimentos, mas eu que tinha esquecido de tirar o rímel antes de nadar. Atravessei o bairro com manchas pretas em cada olho. Uma ainda escorria pelo nariz.